ambiente virtual e o professor

As regras impostas pelo distanciamento social trouxeram um personagem que não aparecia com frequência nas manchetes: o professor do presente. O educador do futuro fica para depois. A urgência dos acontecimentos exigiu uma transição forçada para novas tecnologias digitais da informação e da comunicação (TDIC). Ele não é mais o mesmo.

Para o secretário-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurría, o fortalecimento dos sistemas de educação precisa estar no centro do planejamento do governo para se recuperar desta crise e dar aos jovens as habilidades e competências de que precisam para ter sucesso.

O modelo brasileiro está pronto e se encontra na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em vigor desde o início do ano, enquanto a pandemia causada pelo coronavírus se instalava por aqui.

Como exemplo, a área de Linguagens e suas Tecnologias criada para o Ensino Médio destaca objetivos importantes não só para o estudo da língua portuguesa e estrangeira.

O ensino híbrido veio para ficar e o compartilhamento de conhecimento se pulveriza nas redes sociais e outras plataformas (o que não é novidade). Todos somos consumidores, multiplicadores e produtores de conteúdos diversos.

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Nativo ou inocente digital?

É possível que você conheça um adolescente que saiba editar vídeos com um aplicativo gratuito, mas que não consegue identificar uma foto manipulada ou a diferença entre uma notícia e uma propaganda veiculada como marketing oculto.

Ele compartilha com os amigos as melhores fotos da sua viagem no verão passado, entretanto, desconhece o poder de alcance da sua imagem.

Se o indivíduo tem idade e permissão para usar a Internet e os seus acessórios, esta é a oportunidade certa para desenvolver o seu senso crítico quanto à utilização de todas as mídias que estão disponíveis para que ele se beneficie delas à medida que se protege dos riscos existentes.

Para o Ensino Médio, há competências específicas sobre as práticas de linguagem no ambiente digital, como a número 7, por exemplo:

“Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal e coletiva.”

Ao terminar o Ensino Fundamental, o estudante tem condições de participar ativamente de diversas práticas sociais envolvendo a linguagem.

É chegada a hora de aprofundar a análise sobre as linguagens e os seus funcionamentos, intensificando a perspectiva analítica e crítica da leitura, escuta e produção de textos verbais e multissemióticos.

Ampliar os horizontes

É necessário ainda alargar as referências estéticas, éticas e políticas que cercam a produção e a recepção de discursos, ampliando as possibilidades de fruição, de construção e produção de conhecimentos, de compreensão crítica e intervenção na realidade e de participação social dos jovens, nos âmbitos da cidadania, do trabalho e dos estudos, conforme sugerido pela BNCC.

O documento apresenta também o estudo do campo jornalístico-midiático que trata do desenvolvimento do senso crítico no consumo da mídia impressa e digital.

Esta é uma discussão pertinente em qualquer disciplina, uma vez que a segunda pandemia a ser combatida é a infodemia, que é um aumento significativo no volume de informações, corretas ou não, sobre um tema específico, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.

Se não for na escola, onde mais o aluno aprenderá a filtrar e questionar o conteúdo que está em suas mãos?

A escola já formou pequenos, mas eficientes multiplicadores no combate ao tabaco. O mesmo aconteceu durante as campanhas pelo uso do cinto de segurança e, desde então, os números mostram a queda de fumantes ao redor do mundo e a diminuição dos acidentes de trânsito.

Há um trabalho extenso de curadoria feita pelo professor pela frente no enfrentamento do fenômeno da desinformação, comumente chamado de fake news.

O papel do professor do presente

É o professor do presente quem assume esta tarefa de capacitação enquanto se reinventa, mas ele precisa de apoio e respaldo. Esta é a alfabetização digital e midiática esperada para o indivíduo que deixa a escola rumo à universidade. O momento é decisivo. O futuro verá.

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Janaina Silva

Jornalista, professora de inglês, educadora midiática e escreve sobre Educação no site educaderno.com 

Referências bibliográficas

https://nacoesunidas.org/infodemia-tem-tornando-resposta-as-emergencias-de-saude-ainda-mais-dificil-afirma-opas/ – Acesso em 20/09/20

https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/09/08/escolas-fechadas-turmas-com-mais-alunos-e-11percent-de-professores-jovens-dados-da-ocde-apontam-desafios-da-educacao-brasileira-na-pandemia.ghtml – Acesso em 20/09/20

http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#medio/lingua-portuguesa -Acesso em 20/09/20